Uma curta e sublime história de bastidores com Marcelo Camelo




Comunidade reunida para show de Marcelo Camelo em Salvador ─ Foto: Will Assunção/WA

Minha curta — melhor, curtíssima — e sublime história com Marcelo Camelo começa nos bastidores do maior festival de música do Norte e Nordeste, o Festival de Verão. Eu estava lá como repórter, tentando equilibrar o profissionalismo com a devoção de fã, quando o destino me colocou diante de um dos meus poetas preferidos.

A pauta era simples: uma entrevista sobre a carreira, os projetos, o impacto dos Los Hermanos e o retrato de uma geração meio perdida, a tal Geração Y. Mas, como quase tudo que envolve Camelo, o papo logo descambou para a fé — não a religiosa, mas aquela fé no amor, na coragem de sentir e continuar. Dois caras tentando acreditar em alguma coisa boa, no meio do caos.

Quando terminamos, respirei fundo e, num impulso que misturava timidez e necessidade, pedi uma foto. Tietei, confesso. Afinal, era ele quem havia musicado minhas dores de estimação, com versos que sempre pareceram escritos para mim.

O fotógrafo improvisado empunhou uma câmera enorme — daquelas que a gente segura com as duas mãos, como se fosse um troféu — e tentou o clique. Um, dois, três, quatro disparos… e nada. A máquina parecia conspirar contra mim. Eu suava, sorria sem graça e já começava a me despedir, conformado em levar apenas a lembrança daquele encontro.

Mas o acaso, ou talvez a gentileza de Camelo, não deixou que terminasse assim. Ele olhou pra mim e disse, com aquele tom manso:

— Vê se a foto saiu mesmo?

Não tinha saído.

—  Tá vendo? Se eu não falasse, a gente não teria a foto, brincou, rindo.

Dessa vez, ele mesmo sugeriu: “Vamos pelo celular, vai dar certo.” E deu. O clique foi rápido, leve, quase cúmplice. A noite, que já era boa, ficou completa.

Afinal, nem toda foto é só imagem — algumas são lembranças que o próprio universo insiste em enquadrar.