Pela ordem da inculta e bela, presidente!

Will Assunção ─ Editoria de Arte da WA

A ideia, que partiu do ministro da Economia Paulo Guedes, de abolir termos previstos no Manual de Redação da República em situações formais e em documentos oficiais, resultou em um decreto presidencial que institucionaliza a mudança.

O documento dispensa, por exemplo, o uso de “vossa excelência”, “doutor”, “ilustríssimo”, “digníssimo” e “respeitável”. Consequentemente, todos esses termos serão substituídos por "senhor" ou "senhora".

O governo, que informou que a intenção é “desburocratizar” o tratamento e “eliminar barreiras que criam distinção” entre funcionários, demonstra apenas que não possui familiaridade com o Manual de Redação da Presidência da República (1991), revisado pelo gramático Celso Luft, que estabelece:

“Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento digníssimo (DD) às autoridades arroladas na lista anterior. A dignidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repetida evocação”.

“Como se depreende do exemplo acima, fica dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de vossa senhoria e para particulares. É suficiente o uso do pronome de tratamento senhor”.

“Acrescente-se que doutor não é pronome de tratamento, e, sim, título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso universitário de doutorado. [...]. Nos demais casos, o tratamento senhor confere a desejada formalidade às comunicações”.

Ou seja, à exceção do pronome “vossa excelência”, o governo não apresenta inovações relevantes. O restante da “mudança” que o governo anuncia com pompa já era previsto há décadas nos manuais da própria presidência.

E eles ─ coitados ─ crentes que estão inventando a roda.