Morre Deraldo Chagas, testemunha ocular do apogeu das Lavras Diamantina




O tropeiro e boiadeiro Deraldo Chagas ─ Foto: Will Assunção/WA

O tropeiro e boiadeiro Deraldo Chagas Pereira, conhecido pela alcunha de Dera Pé de Bode, morreu aos 97 anos nesta quarta-feira (17), em sua casa, no município de Jussiape, na Chapada Diamantina, Bahia. A morte foi confirmada pela esposa, Genir Pereira, que informou que o tropeiro vivia com a família na cidade. O corpo do tropeiro foi enterrado às 8h, desta quinta-feira (18), em Jussiape.

A causa da morte não foi divulgada. No entanto, Chagas tratava complicações decorrentes de uma trombose em Vitória da Conquista. Ele deixou a esposa e quatro filhos.

Uma personagem da economia sertaneja
Deraldo Chagas foi uma das figuras mais representativas de uma geração que viveu o auge da economia tropeira nas Lavras Diamantinas, região que compreende atualmente a Chapada Diamantina. No início e meados do século XX, tropas partiam da Fazenda do Gado, hoje Jussiape, para abastecer de carne bovina diversas regiões da Bahia.

O tropeirismo foi essencial para o desenvolvimento econômico de diversas cidades, como Jussiape, Jequié e Bom Jesus da Lapa, conectadas por rotas de comércio, percorridas por comboios de burros e bois que transportavam, além de carne salgada, couro, mantimentos e correspondências. 

O cotidiano nas tropas
Deraldo participou ativamente desse ciclo econômico, conduzindo boiadas e mercadorias em longas viagens. Ele relatava que, durante as paradas, utilizavam trempes, panelas de ferro e punhais, instrumentos típicos da vida tropeira, para preparar refeições, como o tradicional feijão tropeiro.

As tropas, além de movimentar a economia local, também atuavam como meio de comunicação entre comunidades isoladas. Os tropeiros eram responsáveis por levar cartas, notícias e mercadorias, funcionando como uma espécie de correio informal da época.

O declínio das tropas
Com o avanço das estradas e a introdução dos caminhões a partir da década de 1960, o transporte de carga por tropas começou a desaparecer. Em Jussiape, a atividade tropeira entrou em declínio até o início da década de 1970.

Mesmo após o fim das tropas, Deraldo permaneceu como referência da memória viva desse período, como testemunha de uma das fases mais prósperas e simbólicas da história econômica do sertão baiano.